EL DIARIO A DIARIO

Por Julio Cortázar

Un señor toma el tranvía después de comprar el diario y ponérselo bajo el brazo. Media hora más tarde desciende con el mismo diario bajo el mismo brazo. Pero ya no es el mismo diario, ahora es un montón de hojas impresas que el señor abandona en un banco de la plaza. Apenas queda solo en el banco, el montón de hojas impresas se convierte otra vez en diario, hasta que un muchacho lo ve, lo lee, y lo deja convertido en un montón de hojas impresas. Apenas queda solo en el banco, el montón de hojas impresas se convierte otra vez en un diario, hasta que una anciana lo encuentra, lo lee, y lo deja convertido en un montón de hojas impresas. Luego se lo lleva a su casa y en el camino lo usa para empaquetar medio kilo de acelgas, que es para lo que sirven los diarios después de estas excitantes metamorfosis.

Julio Cortázar (1914-1984), de Historias de Cronopios y de Famas, 1962

O JORNAL DIÁRIO

Por Julio Cortázar



Um homem pega o bonde depois de comprar o jornal e o coloca debaixo do braço. Meia hora mais tarde retorna com o mesmo jornal debaixo do mesmo braço. Mas já não é o mesmo jornal, agora é uma pilha de folhas impressas que o homem deixa em um banco da praça. Assim que fica sozinha no banco, a pilha de folhas impressas se transforma novamente em jornal até que um jovem o vê, lê, e o deixa convertido em uma pilha de folhas impressas. Assim que fica só no banco, a pilha de folhas impressas se torna outra vez um jornal até que uma velha mulher o encontra, lê, e o deixa convertido em uma pilha de folhas impressas. Então ela o leva para sua casa e no caminho usa-o para embalar meio quilo de acelgas, que é para o que servem os jornais depois dessas excitantes metamorfoses.


Julio Cortázar (1914-1984), El diario a diario, (de Historias de Cronopios y de Famas, 1962)

Traduzido ao português por Angela Schnoor

QUARANTOTTO


Di Giorgio Manganelli



Dal momento in cui si è accorto che è impossibile non essere al centro del mondo, e che questo vale tanto per lui, quanto per ogni essere umano, o animale, o sasso, o alga, o batterio, egli ha dovuto accettare che due sole soluzioni sono date, a descrizione del comportamento da tenere in quella situazione. O il centro del mondo è attivo, ed allora il mondo, dotato e arricchito da infiniti centri, sarà infinitamente attivo; oppure dovrà essere assediato dalla totalità del mondo; più esattamente essere il bersaglio del mondo. Attualmente, egli esperimenta la seconda condizione; egli sa di essere psicologicamente sferico, e di essere al centro di un gran numero di raggi che, stranamente, si concentrano su di lui, e lo trafiggono con le loro punte di luce. Egli avverte, nelle cavità deserte dello spazio, tendersi senza mani un arco di impossibile durezza, e scoccarne una freccia che lo raggiungerà in occasione del suo sessantesimo compleanno. Tenta di spostarsi, di fluttuare, ma sa che ogni movimento del suo corpo sferico lo offre alle mire di altre costellazioni, astri nascosti ad astri, nuvole ed animali. Tuttavia, più di qualsiasi stella o nebbia, lo atterrisce la mira che su di lui tengono continuamente il niente ed il silenzio. Egli non sa dove sia il niente, e sospetta sarebbe bersaglio di una trafittura interna, una trafittura tale che la sua sfera non potrebbe reggere, sebbene non sappia quel che significa questa conclusione; quanto al silenzio, esso è dato, questo lo ha ben capito, dalla soppressione di tutte le voci che potrebbero rivolgersi a lui in modo definitivo, trafiggendolo, questo è orribile, senza alcuna arma. In qualsiasi punto vi sia silenzio, lì è nascosta una voce; e quella voce lo pensa, lo esamina, lo scruta. Se il nulla e il silenzio si alleano, si passano informazioni con cenni che egli non può cogliere, che accadrà di lui? Oh, egli non teme l’asta scoccata del centauro il giorno della sua nascita, e che ora lo raggiunge: non si difende dalla affaticata lancia che attraversa il mondo per volontà di ferirlo; ma questo lo turba, di non poter più distinguere tra se stesso dolore, vanificazione, morte, e se stesso centro del mondo.
 Giorgio Manganelli (1922-1990), Quarantotto, 1979

QUARENTA E OITO

Por Giorgio Manganelli

Desde o momento em que percebeu ser impossível não estar no centro do mundo, e que isso vale tanto para ele quanto para qualquer outro ser humano, animal ou mesmo pedra, alga ou bactéria, ele precisou aceitar que somente duas soluções são possíveis como exemplo do comportamento a ser mantido naquela situação. Ou o centro do mundo é ativo e então o mundo, dotado de infinitos centros que o enriquecem, será infinitamente ativo; ou então deverá ser assediado pela totalidade do mundo; mais exatamente, ser o alvo do mundo. Atualmente ele experimenta a segunda condição; ele se sabe psicologicamente esférico e está no centro de um grande número de raios que estranhamente se concentram sobre ele e o transpassam com suas pontas de luz. Ele percebe nas cavidades desertas do espaço, retesar-se sem mãos, um arco de dureza impossível e lança uma flecha que o alcançará por ocasião de seu sexagésimo aniversário. Tenta se deslocar, flutuar, mas sabe que todo o movimento de seu corpo esférico o oferece à mira de outras constelações, astros escondidos por astros, nuvens e animais. No entanto, mais do que qualquer estrela ou neblina, o aterroriza a mira que sobre ele, o nada e o silêncio mantêm continuamente. Desconhece onde está o nada e suspeita ser o alvo de uma perfuração interna, uma perfuração tal que sua esfera não poderia suportar, embora não saiba o que significa esta conclusão; quanto ao silêncio, este é dado, e isso ele entendeu bem, pela supressão de todas as vozes que poderiam se dirigir a ele de modo definitivo, transpassando-o, e isto é horrível, sem arma alguma. Em qualquer ponto onde há silêncio, ali  se oculta uma voz e aquela voz pensa nele, o examina, o analisa. Se o nada e o silêncio se aliarem, trocando informações por sinais que ele não possa captar, o que será dele? Oh, ele não teme a seta lançada pelo centauro no dia de seu nascimento e que agora o alcança: não se defende da fatigada lança que atravessa o mundo com intenção de feri-lo mas,isso o perturba, o não mais poder se distinguir da dor, da frustração, da morte, e de si próprio centro do mundo.


Giorgio Manganelli (1922-1990), Quarantotto, 1979

Traduzido ao português por Angela Schnoor

EDÉN

Por David Lagmanovich


Adán y Eva

Enorme fue mi sorpresa cuando, al despertar, vi a mi lado a un ser que era como yo, pero no era exactamente como yo. (Todavía no sabíamos hablar entre nosotros: eso vino después.) Miré a la criatura con mucha curiosidad, hasta que entendí que el Señor la había creado para que me hiciese compañía. La curiosidad se convirtió en agradecimiento y afecto: al fin tenía a mi lado a alguién, procedente del mismo Padre, a quien podía proteger y amar. Por su parte, la criatura me miraba también con expresión pacífica, per me parecióencontrar en su mirada el anuncio de muchas cosas por venir, y eso me dio que pensar.


Literal

Mi mente es literal. Cuando les sugerí que probabaran la fruta del árbol, quise decir exactamente eso. No es culpa mía si ellos tomaron mis dichos, inocentemente gastronómicos, en un sentido metafórico que irritó al dueño del Jardín —dijo la serpiente.

Tomado de Los cuatro elementos, Editorial Menoscuarto, Palencia, 2007

ÉDEN

Por David Lagmanovich


Adão e Eva


Foi enorme minha surpresa quando, ao despertar, vi a meu lado um ser que era como eu, mas não exatamente como eu. (Entretanto não sabíamos nos comunicar: isso veio depois) Olhei para a criatura com muita curiosidade, até que entendi que o Senhor a havia criado para que me fizesse companhia. A curiosidade se transformou em agradecimento e afeto: enfim teria a meu lado alguém, procedente do mesmo Pai, a quem poderia proteger e amar. Por seu lado, a criatura também me olhava com expressão pacífica, mas me pareceu encontrar em seu olhar o prenúncio de muitas coisas por vir, e isto me deu o que pensar.


Literal


Minha mente é literal. Quando lhes sugeri que provassem a fruta da árvore, quis dizer exatamente isso. Não é minha culpa se eles entenderam minhas palavras, inocentemente gastronômicas, num sentido metafórico que irritou o dono do jardim - disse a serpente.

Traduzido ao português por Angela Schnoor de Los cuatro elementos, Editorial Menoscuarto, Palencia 2007

EL PUÑAL


Por Jorge Luis Borges


En un cajón hay un puñal.
Fue forjado en Toledo, a fines del siglo pasado; Luis Melián Lafinur se lo dio a mi padre, que lo trajo del Uruguay; Evaristo Carriego lo tuvo alguna vez en la mano.
Quienes lo ven tienen que jugar un rato con él; se advierte que hace mucho que lo buscaban; la mano se apresura a apretar la empuñadura que la espera; la hoja obediente y poderosa juega con precisión en la vaina.
Otra cosa quiere el puñal.
Es más que una estructura hecha de metales; los hombres lo pensaron y lo formaron para un fin muy preciso; es, de algún modo eterno, el puñal que anoche mató un hombre en Tacuarembó y los puñales que mataron a César. Quiere matar, quiere derramar brusca sangre.
En un cajón del escritorio, entre borradores y cartas, interminablemente sueña el puñal con su sencillo sueño de tigre, y la mano se anima cuando lo rige porque el metal se anima, el metal que presiente en cada contacto al homicida para quien lo crearon los hombres.
A veces me da lástima. Tanta dureza, tanta fe, tan apacible o inocente soberbia, y los años pasan, inútiles.

O PUNHAL

Por Jorge Luis Borges


Numa gaveta há um punhal.
Foi forjado em Toledo, em fins do século passado; Luis Melián Lafinur deu-o a meu pai, que o trouxe do Uruguai; Evaristo Carriego teve-o alguma vez, em sua mão.
Os que o vêem tem de brincar um pouco com ele; percebe-se que há muito o buscavam; a mão se apressa em apertar o punho que a espera; a lâmina obediente e poderosa folga com precisão na bainha.
O punhal quer outra coisa.
É mais que uma estrutura feita de metais. Os homens o pensaram e o fizeram para um fim muito preciso; é, de algum modo eterno, o punhal que na noite passada matou um homem em Tacuarembó e os punhais que mataram César. Quer matar, quer derrame súbito de sangue.
Numa gaveta da escrivaninha, entre rascunhos e cartas, o punhal sonha, interminavelmente, seu singelo sonho de tigre e a mão se anima quando o dirige porque o metal se anima, o metal que, em cada contato, pressente o homicida para quem os homens o criaram.
Às vezes me dá pena. Tanta solidez, tanta fé, tão suave ou inocente soberba, e os anos passam, inúteis.

Traduzido ao português por Angela Schnoor

FLORES, MARIPOSAS


Por César Antonio Alurralde


Flores


Con la primavera habían llegado las primeras flores. La explosión de pétalos iluminó la casa sombría. Resultaba fácil observar la ausencia de mariposas libando su néctar, como también el zumbido alegre de las abejas y el trinar bullicioso de los pájaros.

Cuando trajeron la última corona de la Florería ya había partido el cortejo rumbo a su largo viaje sin regreso.



Mariposas

El sol bañaba la tarde dorando de luces la campiña. El follaje se derramaba en un torrente de esmeralda, mientras las flores esperaban pacientes sus mariposas que con las alas desplegadas posaban atravesadas por un alfiler, mostrando su mortal quietud tras el vidrio del cuadro.

FLORES, MARIPOSAS

Por César Antonio Alurralde


Flores

Com a primavera, haviam chegado as primeiras flores. A explosão de pétalas iluminou a casa sombria. Era fácil observar a ausência de mariposas sugando seu néctar, assim como o zumbido alegre das abelhas e o trinar agitado dos pássaros.

Quando trouxeram a última coroa da floricultura, o cortejo já havia partido rumo a sua longa viagem sem volta.



Mariposas

O sol banhava a tarde dourando de luzes a campina. A folhagem se derramava em uma torrente de esmeralda, enquanto as flores esperavam pacientes suas mariposas que, com as asas presas, pousavam atravessadas por um alfinete, mostrando sua quietude mortal atrás do vidro do quadro.
 
 
Tomado de Cuentos breves
 
Traduzido ao português por Angela Schnoorr

EM PLENO VÔO


Por Ana Mello

Quando perder não é à toa

Bala perdida mata traficante em seu apartamento.


Banco detrás

Afoito ele quase arrancou dois botões da blusa dela.
Ela disse com orgulho – sou virgem.
Ele respondeu sem interromper a investida:
- Não entendo nada de horóscopo.


Presente
 
O sorriso dela ao receber o anel compensou o trabalho de cortar o dedo da vítima do assalto.


Em pleno vôo 

Se o avião não tivesse caído, aquele último abraço não teria a menor importância.


Se não tem remédio, remediado está

Para cuidar do coração tinha o cardiologista, dos ossos o ortopedista, da pele o dermatologista, faltava um que o enxergasse como um corpo inteiro e com um pouco de sentimento.


Rede de relacionamento

- Carla, o João se matou.
- Quando, como você ficou sabendo?
- Vi no twitter dele há quinze minutos.


Acordo

Terminado o relacionamento, ele pediu:
- Quero o silicone que te paguei.
Ela respondeu:
- Tudo bem, mas me devolve o homem novo em que te transformei.


Escolhas

Por anos pagou pelo melhor plano de saúde, completo, com direito a tudo.
No fim da vida, além de não ser curado, foi ainda mantido vivo contra sua vontade por dois anos.

Tomado da

IN VOLO


Di Ana Mello

Regalo

Il sorriso di lei al ricevere l’anello valse la fatica di tagliare il dito della vittima dell’aggressione.


In volo

Se l’aereo non fosse caduto, quell’ultimo abbraccio non avrebbe avuto la benché minima importanza.


Se non c'è soluzione si vede che è risolto

Per prendersi cura del cuore aveva il cardiologo, per le ossa l’ortopedico, per la pelle il dermatologo, mancava chi lo guardasse come un corpo intero e con un po’ di sentimento.


Social Network

– Carla, João s’è ammazzato.
– Quando, come l’hai saputo?
– L’ho letto su twitter quindici minuti fa.


Accordo

A relazione finita lui le chiese:
– Rivoglio il silicone che ti ho pagato.
Lei rispose:
– Va bene, ma restituiscimi l’uomo nuovo in cui ti ho trasformato.


Scelte

Per anni pagò la migliore assicurazione sanitaria, completa, che dava diritto a tutto.
Alla fine della vita, oltre a non a esser curato, fu mantenuto vivo contro la sua volontà per ancora due anni.
Quando perdere non è per caso

Pallottola vagante uccide trafficante nel suo appartamento.



Tradotto in italiano da Stefano Valente da 

EN PLENO VUELO

Por Ana Mello

Cuando no se pierde al azar


Bala perdida mata a traficante en su apartamento.



En la silla trasera


Ansioso, casi le arrancó los botones de la blusa .

Ella le dijo con orgullo:  “Soy virgen”. 

Él respondió sin detener el asalto: “No sé nada del horóscopo.”



Regalo


La sonrisa de ella al recibir el anillo compensó el trabajo de cortar el dedo a la víctima del asalto.



En pleno vuelo


Si el avión no hubiera caído, aquel último abrazo no habría tenido la menor importancia.



Si no tiene remedio, remediado está


Para cuidar su corazón tenía al cardiólogo, para los huesos al ortopedista, para la piel al dermatólogo… Le faltaba uno que lo tratara como un cuerpo íntegro y con un poco de sentimiento.



Red social


-Carla, João se mato.

-¿Cuándo, cómo lo supiste?

-Lo vi en el twitter de él hace quince minutos.



Acuerdo


Terminada la relación, él le exigió:

-Quiero la silicona que te pagué.

Ella respondió:

-Muy bien, pero me devuelves el hombre nuevo en que te transformé.



Decisiones


Durante años pagó el mejor plan de salud, completo, con derecho a todo.

Al fin de su existencia, además de que no lo curaron, lo mantuvieron vivo dos años más contra su voluntad.

Traducido del portugués por Alejandro Ramírez Giraldo de
 
 

QUADRILHA



Por Carlos Drummond de Andrade

João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.

João foi para o Estados  Unidos, Teresa para o
convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto  Fernandes que não tinha entrado na história.

Tomado da Revista Agulha

CUADRILLA



Por Carlos Drummond de Andrade

João amaba a  Teresa que amaba a Raimundo que amaba a Maria que amaba a Joaquim que amaba a Lili que no amaba a ninguno.

João se fue para  Estados  Unidos, Teresa para el convento, Raimundo murió en un accidente, Maria no pasó de tía, Joaquim se suicidó y Lili se casó con J. Pinto Fernandes que no había entrado em La historia.

Traducido al español por Alejandro Ramírez Giraldo de la Revista Agulha

SQUADRACCIA


  
Di Carlos Drummond de Andrade 


João amava Teresa che amava Raimundo che amava Maria che amava Joaquim che amava Lili che non amava nessuno.

João andò negli Stati Uniti, Teresa in convento, Raimundo morì in un disastro, Maria rimase zitella, Joaquim si suicidò e Lili si sposò con J. Pinto Fernandes che non era entrato nella storia.




Tradotto in italiano da Stefano Valente dalla Revista Agulha

SORTILEGIO



Por Ricardo Bernal

Qué chistoso, creíste que las moscas habían sido invitadas por papá para ver el fut, pero luego del fut siguieron los anuncios de podadoras de césped, los anuncios de cañas de pescar y remedios infalibles para el insomnio; y después la tele sólo fue rayitas y un zumbido que se confundía con el canto de las moscas. Entonces viste que algunas se paseaban despacio por la cara de papá y papá no se movía, ojos fijos en rayitas inmóviles, las moscas volaban y dos de ellas entraron por su boca abierta que ya no te gritaba para pedirte otra cerveza y notaste un olor fantasma, dulce y extraño; un olor que tal vez habían inventado las moscas. Papá, ¿me oyes?, pero él estaba serio, muy concentrado en las rayitas, y temiste que enfureciera si lo interrumpías y fuiste a acostarte pues ya eran más de las doce. Al día siguiente te despertaste cuando el sol te clavó sus largas uñas en los párpados, juro que no soñé nada, diez de la mañana y no hiciste el desayuno y corriste con el corazón mandarina desgajándosete dentro del pecho, y eso que escaleras arriba seguían zumbando las moscas y tu papá era un enorme barco verde camaleón morado viendo en la tele azul el noticiero de los accidentes automovilísticos, y las moscas entraban por su boca, cada vez más numerosas y relamiendo sus trompitas labios fauces minúsculas de moscas hambrientas que en realidad, entonces lo supiste, eran un disfraz negro que se teje a sí mismo. Papá, ya me voy a la escuela, dijiste con voz de pollo, pero él no contestó y pudiste ver que había agua violeta encharcando sus terribles pantalones de militar, adiós papá, pensaste, y viste tu imagen en el espejo del vestíbulo, el pelo revuelto y lleno de cenizas, los ojos hinchados de tanto sumergirte en el tanque de las pesadillas, los grises labios grietas floreciendo, y saliste de puntitas para que papá no dijera esas palabras glaciales que dice cuando no eres como él se imagina que eres: una niña buena y dulce, ya tengo cuarenta años, papá, y en la escuela el hombre de la bata ya no me dice nada, ya no me sabe agria la leche, ya no lloro cuando me acuerdo de mamá que se fue a otra casa donde vive con un papá distinto que dice palabras distintas, palabras que la han hecho olvidarse de ti, olvidarse de este otro papá quien seguía viendo la tele cuando regresaste después de andar quién sabe dónde, y el olor había crecido, furioso, dispuesto a hurgarte con ganchos invisibles la memoria. Papá, ¿quieres comer algo? Silencio. Pero papá, no es posible que estés viendo la tele todavía, además a ti nunca te han gustado las caricaturas, y sus ojos han perdido ese brillo mercurial que tienen siempre que él se mueve feroz, y te persigue, y te arrincona, no papá, no, y con su navaja te arranca los velos, no papito, y ahora sus ojos ya no te pueden ver con esos párpados de alas móviles, nunca más vas a saber dónde me escondo, nunca más me vas a espiar cuando me bañe. Te acercas despacio, el olor golpea tu rostro como un pedazo de infierno, desconectas la tele y las moscas cantan óperas nerviosas alrededor del silencio de tu padre tan quieto, y tú por fin te atreves a tocarle el hombro y le hundes los dedos en la carne como si fuera plastilina, y cierras los ojos, y en tus adentros ves un triciclo oxidándose en el patio bajo la lluvia; ves muñecas sin cabeza debajo de la cama. Retiras la mano y ves a un par de gusanillos que trepan lentos por tu dedo índice, papá ya no tienes lengua, sólo gusanos brotando apenas de tu boca, gusanos paseándose por los pliegues, explorando las articulaciones para buscar debajo de la carne al niño que fuiste hace mucho tiempo, al niño que jugará conmigo a la casita y me llevará a un reino de charcos donde yo seré princesa para siempre, y para siempre quedarán en esta casa las moscas, tristes de tanto ver nuestros retratos en las paredes de polvo, y después de jugar yo dormiré contigo, papá, sin miedo, sin rencores, dormiré entre tus brazos amorosos hasta que la muerte nos separe.  


SORTILEGIO


Di Ricardo Bernal

Che carino, hai creduto che le mosche fossero state invitate da papà a vedere il calcio, ma subito dopo il calcio hanno trasmesso le pubblicità dei tagliaerba, le pubblicità di canne da pesca e di rimedi infallibili contro l’insonnia; e poi la tele è diventata solamente righe e un ronzio che si confondeva col canto delle mosche. Allora hai visto che alcune di loro passeggiavano piano piano sulla faccia di papà e papà non si muoveva, gli occhi fissi sulle righe immobili, le mosche volavano e due di quelle sono entrate nella sua bocca aperta che adesso non gridava per chiederti dell’altra birra e ti sei accorta di un odore fantasma, dolce e strano; un odore che forse avevano inventato le mosche. Papà, mi ascolti?, ma lui se ne stava serio, tutto concentrato sulle righe, e hai temuto che si sarebbe infuriato se lo avessi interrotto e così sei andata a dormire ché già era passata mezzanotte. Il giorno dopo ti sei svegliata quando il sole ti ha inchiodato le sue unghie lunghe nelle palpebre, giuro che non ho sognato nulla, dieci di mattina e non hai fatto colazione e sei corsa via con il cuore mandarino che ti si apriva a spicchi nel petto, e il fatto che in cima alle scale continuavano a ronzare le mosche e tuo papà era un’enorme barca verde camaleonte violaceo che stava guardando alla tele azzurra il notiziario degli incidenti stradali, e le mosche gli entravano nella bocca, sempre più numerose e sempre leccando le loro proboscidine labbra fauci minuscole di mosche affamate che in realtà, allora te ne sei resa conto, erano una maschera nera che si cuciva da sola. Papà, vado subito a scuola, hai detto con voce di pulcino, però lui non ha risposto e hai notato che c’era dell’acqua violetta che infradiciava i suoi terribili pantaloni militari, ciao papà, hai pensato, e hai visto la tua immagine nello specchio dell’ingresso, i capelli arruffati e pieni di cenere, gli occhi gonfi da così tanto affondarti nella palude degli incubi, le labbra grigie fiorendo spaccature, e sei uscita in punta di piedi perché papà non pronunciasse quelle parole di ghiaccio che dice quando non sei come lui immagina che tu sia: una bambina buona e dolce, ormai ho cinquant’anni, papà, e a scuola l’uomo col camice non mi dice più niente, e il latte non mi sa più di acido, e non piango più quando mi ricordo di mamma che se n’è andata in un’altra casa dove vive con un papà diverso che dice parole diverse, parole che le hanno fatto scordare di te, scordarsi di quest’altro papà che continuava a vedere la tele quando sei tornata, dopo essere stata chissà dove, e l’odore era aumentato, furioso, pronto a frugarti la memoria con uncini invisibili. Papà, vuoi mangiare qualcosa? Silenzio. Ma papà, non è possibile che tu stia ancora guardando la tele, oltretutto non ti sono mai piaciuti i cartoni, e adesso i suoi occhi hanno perduto quel brillio mercuriale che hanno sempre quando lui si muove feroce, e ti insegue, e ti chiude nell’angolo, no papà, no, e col suo rasoio ti taglia via i veli, no papino, e adesso i suoi occhi, con quelle loro ali che vibrano, non possono più vederti, non saprai mai più dove mi sono nascosta, non mi spierai mai più mentre faccio il bagno. Ti avvicini piano, l’odore ti colpisce in volto come un alito di inferno, spegni la tele e le mosche cantano liriche nervose attorno al silenzio di tuo padre così quieto, e tu alla fine ti azzardi a toccargli la spalla e gli affondi le dita nella carne molle come fosse plastilina, e chiudi gli occhi, e dentro di te vedi un triciclo che si arrugginisce nel cortile sotto la pioggia; vedi bambole senza testa sotto il lettino. Ritiri la mano e vedi un paio di vermetti che si arrampicano lenti lungo il tuo dito indice, papà non hai più la lingua, solo vermi che ti brulicano fuori dalla bocca, vermi che ti fanno avanti e indietro sulle rughe, che ti esplorano le articolazioni sotto la carne in cerca del bambino che sei stato tanto tempo fa, il bambino che giocherà con me a marito e moglie e mi porterà in un regno di pozzanghere e fango dove io sarò principessa per sempre, e per sempre resteranno in questa casa le mosche, tristi di vedere e rivedere i nostri ritratti sulle pareti di polvere, e dopo aver giocato io dormirò con te, papà, senza paura, senza rancori, dormirò fra le tue braccia amorose finché morte non ci separi.

Tradotto in italiano da Stefano Valente da http://callejondelacarne.blogspot.com

SETTANTACINQUE


Photobucket
Di Giorgio Manganelli

Una donna ha partorito una sfera;  si tratta di un globo del diametro di venti centimetri; il parto è stato facile, senza complicazioni. Si ignora se la donna sia o meno sposata; un marito avrebbe supposto una relazione col demonio, e l’avrebbe cacciata o forse uccisa a martellate. Dunque non ha marito. Si dice che sia vergine. In ogni caso, è una buona madre: è molto affezionata alla sfera.
Poiché la sfera non ha bocca, la madre la alimenta immergendola in una minuscola vasca colma del suo latte; la vaschetta è decorata di fiori. La sfera è del tutto liscia. Non ha occhi, né organi per muoversi, e tuttavia rotola per la stanza, sale le scale, rimbalzando leggermente, con molta grazia. E’ fatta di una materia più rigida della carne, ma non completamente anelastica. Nei suoi movimenti rivela una volontà decisa, qualcosa che si potrebbe chiamare chiarezza di idee. La madre la lava ogni giorno, la nutre. In realtà, non è mai sporca. Apparentemente, non dorme, sebbene non disturbi mai la madre: non emette alcun suono. Tuttavia la madre crede di sapere che, in certi momenti, la sfera è ansiosa di essere toccata dalla madre; le pare che in quei momenti la sua superficie sia più morbida. La gente evita la donna che ha partorito la sfera, ma la donna non se ne accorge. Tutto il giorno, tutta la notte, la sua vita ruota attorno alla perfezione patetica della sfera. Sa che quella sfera, per quanto prodigiosa, è estremamente giovane. Lentamente, la vede crescere. Dopo tre mesi, il suo diametro è cresciuto di quasi cinque centimetri; talora la superficie, di regola grigia, assume un lieve colorito rosato. La madre non insegna nulla alla sfera, ma cerca di imparare da lei: ne segue i movimenti, cerca di capire se ‘vuol dire’ qualcosa. La sua impressione è che la sfera non voglia dire nulla, e che tuttavia le appartenga. La madre sa che la sfera non resterà sempre nella sua casa; ma le interessa questo appunto, di essere stata coinvolta in una vicenda insieme sgomentevole e del tutto tranquilla. Quando le giornate sono calde e assolate, ella prende in braccio la sfera e cammina attorno alla casa; talora si spinge fino ad un giardino, ed ha l’impressione che la gente si stia abituando a lei, alla sua sfera. Le piace farla rotolare sulle aiuole, inseguirla e catturarla, con un gesto di spaventata passione. La madre ama la sfera, e si domanda se mai nessuna donna sia stata madre quanto lei.

Da Centuria, Rizzoli, 1979.

SETENTA E CINCO



Por Giorgio Manganelli

Uma mulher pariu uma esfera, um globo com diâmetro de vinte centímetros. Foi um parto fácil, sem complicações. Não se sabe se é casada ou não. Um esposo poderia desconfiar de uma relação com o demônio e a teria rejeitado ou, quem sabe, assassinado a marteladas. Portanto não tem marido. Diz-se que é virgem. De todo modo é uma boa mãe, é muito carinhosa com a esfera. 
Como a esfera não tem boca, a mãe a alimenta mergulhando-a em uma bacia cheia com seu leite. A bacia é decorada com flores. A esfera é completamente lisa. Não tem olhos nem órgãos para mover-se mas rola pela casa, sobe as escadas saltando ligeira e com muita graça. É feita de matéria mais rígida do que a carne, entretanto não é totalmente inflexível. Em seus movimentos revela uma vontade firme, algo que se poderia chamar: clareza de idéias. A mãe a limpa e alimenta todos os dias. De fato, nunca está suja. Aparentemente não dorme, mas jamais incomoda a mãe: não emite ruído algum. Mesmo assim, a mãe acredita saber quando, em determinados momentos, a esfera anseia por seu toque; parece que nestes momentos sua superfície se torna mais suave. As pessoas evitam a mulher que pariu a esfera, mas ela não percebe. Todo o dia, toda a noite, sua vida gira em torno da patética perfeição da esfera. Sabe que aquela esfera, por mais que seja prodigiosa, é extremamente jovem. Lentamente a vê crescer. Após três meses seu diâmetro aumentou em quase cinco centímetros; às vezes, a superfície normalmente acinzentada, assume uma cor levemente rosada. A mãe não ensina nada à esfera, mas tenta aprender com ela: não segue seus movimentos, apenas tenta compreender o significado de tudo que ela faz. Sua impressão é que a esfera não quer dizer nada e que, todavia, lhe pertence. A mãe sabe que a esfera não ficará para sempre em sua casa, mas o que importa é ter sido envolvida em uma vivência simultaneamente perturbadora e completamente tranquila. Quando o dia está quente e ensolarado, pega a esfera nos braços e caminha pela casa; às vezes chega até um jardim e tem a impressão de que as pessoas já estão se habituando a ela, à sua esfera. Lhe agrada fazê-la rolar pelo gramado, persegui-la e apanhá-la com um gesto de cautelosa paixão. A mãe ama a esfera e se pergunta se alguma outra mulher terá sido tão mãe quanto ela.

Traduzido ao português por Angela Schnoor  de Centuria, Rizzoli, 1979. 

SETENTA Y CINCO



Por Giorgio Manganelli

Una mujer parió una esfera; se trata de un globo del diámetro de veinte centímetros. Fue un parto fácil, sin complicaciones. Se ignora si la mujer está casada; un esposo hubiera significado una relación con el demonio y la hubiera rechazado o quizá asesinado a martillazos. Por lo tanto no tiene esposo. Se dice que es virgen. De todos modos es una buena madre, está muy encariñada con la esfera.
Puesto que la esfera no tiene boca, la madre la alimenta sumergiéndola en una tinaja llena con su leche; la tinaja está decorada con flores. La esfera es completamente suave. No tiene ojos ni órganos para moverse y de todos modos rueda por la habitación, asciende las escalas saltando ligeramente con mucha gracia. Está hecha de una materia más rígida que la carne, pero no es completamente inflexible. En sus movimientos revela una decidida voluntad, algo que se podría llamar claridad de pensamiento. La madre la lava todos los días, la alimenta. En realidad nunca está sucia. Aparentemente no duerme, aunque jamás molesta a la madre: no emite ningún ruido. De todas maneras la madre cree saber cuando, en determinados momentos, la esfera está ansiosa de ser tocada por la madre; le parece que en algunos momentos su superficie está más suave. La gente evita a la mujer que ha parido la esfera, pero la mujer no lo percibe. Todo el día, toda la noche, su vida gira en torno a la lamentable perfección de la esfera. Sabe que aquella esfera, por lo prodigiosa, es extremadamente joven. Lentamente la ve crecer. Después de tres meses su diámetro creció en casi cinco centímetros; a veces la superficie, normalmente gris, asume un tenue color rosado. La madre no le enseña nada a la esfera, pero intenta aprender de ella: no sigue sus movimientos, intenta comprender el significado de todo lo que hace. Su impresión es que la esfera no quiere decir nada y sin embargo le pertenece. La madre sabe que la esfera no permanecerá eternamente en su casa, pero le interesa haber estado involucrada en un acontecimiento a la vez angustioso y completamente tranquilo. Cuando el día está caluroso y soleado, toma en brazos la esfera y camina por la casa; a veces llega hasta un jardín y tiene la impresión de que la gente se ha habituado a ella, a su esfera. Le gusta hacerla rodar por el jardín, perseguirla y capturarla con un gesto de temerosa pasión. La madre ama la esfera y se pregunta si alguna vez una mujer ha sido madre como ella.

Traducido al español por Alejandro Ramírez Giraldo de Centuria, Rizzoli, 1979.

UNA PASIÓN EN EL DESIERTO


 Photobucket
Imagen: FATAMORGANA
Por José de la Colina

El extenuado y sediento viajero perdido en el desierto vio que la hermosa mujer del oasis venía hacia él cargando un ánfora en la que el agua danzaba al ritmo de las caderas.
- ¡Por Alá -gritó-, dime que esto no es un espejismo!
- No -respondió la mujer, sonriendo-. El espejismo eres tú.
  en un parpadeo de la mujer
                               el hombre desapareció.

EL FINAL DEL PRINCIPIO


Aprovechando que Dios, tras haber trabajado seis días de la semana en la creación del Mundo, se había tomado el domingo y retirado a descansar,  
  el Diablo
                entró en la Tierra
                                            y fundó la Historia.

Tomado de Porterrelatos, ficticia, México, 2007.

UMA PAIXÃO NO DESERTO



Por José de la Colina

Um extenuado e sedento viajante perdido no deserto viu que a formosa mulher do oásis vinha até ele carregando uma anfora onde a água dansava ao ritmo de seus quadris.
-Por Alá - gritou, diz-me que isto não é uma miragem!
-Não - respondeu a mulher, sorrindo. A miragem é você.
E,
em uma piscadela da mulher
                             o  homem desapareceu.


O FINAL DO PRINCÍPIO


Aproveitando que Deus, depois de haver trabalhado seis dias da semana na criação do Mundo, havia tomado para si o Domingo e se retirado para descansar,
o Diabo
entrou na Terra
                       e inaugurou a História.

Traduzido ao português por Angela Schnoor  de Portarrelatos, Ficticia, México, 2007.

UNA PASSIONE NEL DESERTO

Por José de la Colina

Lo stremato, assetato viaggiatore perduto nel deserto vide che la bella donna dell'oasi gli si avvicinava portando un'anfora nella quale l'acqua danzava al ritmo dei suoi fianchi.
— Per Allah — gridò —, dimmi che questo non è un miraggio!
— No — ripsose la donna, sorridendo —. Il miraggio sei tu.
E
  in un battito di ciglia della donna
                                l'uomo svanì.

LA FINE DEL PRINCIPIO

Approfittando del fatto che Dio, dopo aver lavorato sei giorni della settimana alla creazione del Mondo, s'era preso la domenica e ritirato a riposare,
  il Diavolo
                fece il suo ingresso sulla Terra
                                                             e inaugurò la Storia.

Tradotto in italiano da Stefano Valente
da Portarrelatos, Ficticia, México, 2007.

O COMANDANTE


 Photobucket
Imagem:  Global Hermit)
Por Wilson Gorj

Era mestre em fazer aviãozinhos de papel. Muitos deles voavam alto e, arrancando suspiros, aterrissavam do outro lado do muro.
Um belo dia deram pela falta do Comandante.
Os guardas não souberam explicar como ele fugiu.
Seus colegas de hospício juram que foi num aviãozinho de papel.

Tomado do blog O muro e outras páginas

IL COMANDANTE


Por Wilson Gorj

Era maestro nel fare aeroplanini di carta. Molti di essi volavano alto e, fra i sospiri, atterravano dall'altro lato del muro.
Un bel giorno il Comandante sparì.
I sorveglianti non furono in grado di spiegare come fosse fuggito.
Gli altri ospiti del manicomio giurano che se ne sia andato su di un aeroplanino di carta.

Tradotto in italiano da Stefano Valente dal blog  O muro e outras páginas.